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segunda-feira, 11 de junho de 2012

O que o povo brasileiro come é saudável?

Conheça os hábitos e a expectativa de vida deste povo!


Copacabana - RJ

 

O Brasil é um país situado na América do Sul e devido a sua extensão territorial é o 5º país do mundo em área total, apresenta diferentes tipos de clima, que são: equatorial, tropical, semiárido, tropical de altitude, tropical atlântico e subtropical, com a temperatura variando entre 18º e 28º em média. Um país com vários "brasis" dentro de um só, apresenta uma diversidade de recursos naturais, de fauna e flora, cultural, religiosa, climática, socioeconômica e uma culinária proporcional à sua dimensão geográfica e cultural.  Desta forma, para saber o que o povo brasileiro come, antes é necessário conhecer esta nação, suas origens, colonização e por fim seus hábitos alimentares.

Sendo assim, como apresentar um país com várias faces, múltiplos sabores, diferentes raças, loiros ao sul e indígenas ao norte, pobreza e riqueza, secas e enchentes, calor e frio? Apesar das adversidades o povo brasileiro é alegre, versátil como um camaleão, se adapta a tudo, a expectativa de vida desse povo é de 73,11 anos em média.  Em comparação às nações super desenvolvidas, com tecnologia de ponta, não estamos tão mal assim.  Nos Estados Unidos, por exemplo, 34 % da população estava obesa no período de 2005-2006 (fonte: ATS, 29 de novembro de 2007), um dos povos mais obesos do mundo!  A expectativa de vida nos EUA é de 70,11 anos.  No Canadá a obesidade ainda é maior, baseado em dados estatísticos de 2007 verificou-se que 36% da população canadense estava obesa, porém a expectativa de vida é boa, de 81,23 anos.

Misturar diferentes influências deu ao povo brasileiro muita criatividade, essencialmente no que diz respeito a culinária, a forte herança indígena atrelada aos hábitos dos europeus durante a colonização permitiu que a cada região do Brasil, levando em consideração o clima e o tipo de vegetação, houvesse uma tendência gastronômica.  Vamos conhecê-las! 

Ao norte os primeiros habitantes foram os indígenas, logo chegaram os espanhóis, portugueses e posteriormente os japoneses. Os hábitos alimentares são menos industrializados, é bastante comum o consumo de cereais, raízes e tubérculos que são fonte de fibras alimentares. 
Nesta região devido as bacias hidrográficas há muita fartura de peixes, outro hábito saudável deste povo. O consumo de frutas típicas da região e sopas de frutos do mar são frequentes na mesa do nortista.  O açaí, fonte de vitamina C e ação antioxidante, graviola, cupuaçu e pupunha.  Todos os pratos tem uma riquíssima cultura indígena e os temperos tem a influência japonesa, como a pimenta, coentro e ervas.  O tacacá com tucupi é bem apreciado em toda região norte. 
O povo do norte tem expectativa de vida de 72,2 anos, ficando acima apenas do nordeste, apesar da alimentação ser bem natural, com base em carboidratos e proteínas e pouca gordura saturada, a baixa expectativa de vida se deve as condições bem precárias de habitação, transporte, saneamento, educação e de saúde.

Ao sul encontramos o contraste, esta região teve grande influência européia, com predominância italiana e germânica, os gaúchos não são apenas lindos e loiros são também privilegiados pela tecnologia, serviço de saúde e saneamento, além de grande pólo turístico, econômico e cultural do país, notadamente a expectativa de vida é a maior, de 75,2 anos.  No entanto, é lá que está o maior índice de obesidade e colesterol alto, juntamente com a região sudeste.
O que o povo do sul come?  Muita carne bovina, churrasco, peixes, camarão, pirão de peixe e chimarrão, este é preparado com a erva mate que não tem hora para ser consumido, tem ação antioxidante e anticoagulante no sangue, sua ação é parecida com a aspirina que é recomendada por cardiologistas, além disso é fonte de vitamina B, magnésio, ferro, fluor, o que permite tonificar os músculos, evitando a fadiga e o cansaço. Apesar dos bons hábitos e o excelente sistema de saúde, o elevado consumo de carne vermelha coloca em risco a saúde deste povo.

Frutos tropicais
O nordeste  é o mais castigado pela seca por causa do clima semiárido, o povo do sertão nordestino é o mais sofrido, porém forte e perseverante. Nos demais estados do nordeste o clima varia de tropical à equatorial úmido.  A região nordeste foi habitada primeiramente pelos povos indígenas do Brasil, porém a influência predominante foi européia (francesa, holandesa e espanhola) além do tráfico negreiro de Angola e Guiné. 
Por possuir as mais belas praias o litoral é o principal atrativo da região, recebendo milhares de turistas.  Genipabu em Natal (RN), Morro de São Paulo e Costa do Sauípe na Bahia, Porto de galinhas em Pernambuco, Jericoacoara e Canoa Quebrada no Ceará, Lençóis Maranhenses, Fernando de Noronha, etc estes lugares estão ganhando destaque nacional e mundial pela beleza, exuberância e preservação da natureza.
Voltando a culinária, a comida nordestina reflete as condições geoeconômicas dessa região, no litoral os frutos do mar são bem consumidos, enquanto que no sertão a carne bovina, caprina e ovina. O mungunzá no Ceará, os pratos bahianos feitos com azeite de dendê dão origem a culinária afro-brasileira: vatapá, acarajé, bobó de camarão, moqueca. O bolo-de-rolo de Pernambuco e outras iguarias como a carne de sol, queijo coalho , baião-de-dois, canjica, cocada, tapioca, feijão verde. É vasta a alimentação nordestina, além das frutos regionais como o cupuaçu, bacuri, pitomba, ciriguela, coco, etc. O nordestino gosta de pratos fortes, temperados e calóricos.
A região nordeste tem a menor expectativa de vida do Brasil, de 70,4 anos, a pobreza, o clima, o saneamento básico e o sistema de saúde deste povo interferiram radicalmente nesta estatística. 

Como nas demais regiões do Brasil os indígenas foram os primeiros habitantes do Centro-Oeste, depois vieram os bandeirantes.  A cultura nesta região é bem diversificada devido as imigrações de paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios, além da forte influência da cultura indígena. Destacam-se na culinária o bolo de arroz, mojica de pintado, farofa de banana, arroz de carreteiro com guariroba, pamonha de milho verde.
Como influência paraguaia o mate gelado, chipas que é um tipo de pão de queijo e a sopa paraguaia. De origem boliviana as salteñas, são pastéis assados recheados com frango.  Além destas iguarias são apreciados diversos pratos à base de peixes devido a região ser drenada por diversos rios. O Centro-Oeste possui três grandes bacias hidrográficas, a mais extensa é a bacia do rio Paraguai, na qual a parte alagada é composta pelo Pantanal Mato-grossense. A expectativa de vida deste povo é bem razoável de 74,3 anos. A alimentação é saudável quanto ao consumo de peixes, no entanto não há o hábito de verduras.

A região sudeste é o caldeirão de todos os gostos, o sudeste está para o Brasil no que se refere a diversidade. O clima mais ameno está aqui, belas praias e um povo amigável e acolhedor.  A população do sudeste, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, é composta por imigrantes de todas as regiões do Brasil,  é a mistura de raças e credos e isso interfere na construção cultural e  na diversificação da culinária.
Os primeiros habitantes do sudeste foram os indígenas, em sequência vieram os portugueses, italianos e japoneses. A cultura indígena e africana tiveram fortes influências na música e na culinária.
A gastronomia da região sudeste é composta por pratos saborosos como o cuscuz paulista, a moqueca capixaba, a feijoada carioca e o frango com quiabo mineiro.
O Sudeste possui diversificado hábito alimentar, variando de estado para estado:
No Rio de Janeiro os cariocas adoram a feijoada,  sem preconceito quanto a alimentação, provam de tudo, a preferência é pela comida portuguesa, caldo verde e bacalhau à Gomes de Sá. O jeito carioca de comer açaí é com banana e granola e adoram também água de coco.
Em Minas Gerais o tutu de feijão, o feijão tropeiro, o bolo de fubá, o angu e o pão de queijo são bem apreciados.
Em São Paulo o virado à paulista, o mousse de café, o quentão, a pizza, as massas, o beijinho (doce de leite condensado e coco).
A expectativa de vida no Sudeste é a segunda melhor do Brasil, de 74,6 anos, porém é também no sudeste um dos maiores índices de obesidade e colesterol alto, isto se deve a mudança de hábitos alimentares, sedentarismo, menor tempo de preparo das refeições estimulando o consumo de alimentos industrializados e lanches rápidos. No entanto, a preocupação com a saúde pública pelos governantes tem incentivado o uso de bicicletas e atividades ao ar livre, uma vez que o clima favorece esta prática.
 
Desta forma, avaliando a saúde do brasileiro, conforme estatística do Ministério da Saúde em 2011, cerca de 15,8% da população adulta estava obesa e 48,5% com sobrepeso. É relevante que a obesidade aumentou de acordo com a situação socioeconômica da população, ou seja, ficou proporcionalmente mais elevada entre as famílias de baixa renda, ironicamente também as classes menos favorecidas eram também assoladas pela desnutrição há 3 décadas atrás, momento em que ocorreu a transição nutricional, redução da desnutrição e aumento da obesidade, devido a mudança do estilo de vida e a industrialização.

Sobretudo a alimentação do brasileiro pode ser de melhor qualidade, a terra é fértil, a disponibilidade de frutas e hortaliças de grande valor nutritivo, a extensão do nosso litoral e grandes bacias hidrográficas fornecem uma vasta quantidade de espécies marítimas e peixes de água doce.  Basta mudar o hábito e adquirir uma nova rotina e uma postura mais saudável!

Lençóis Maranhenses
Fonte de pesquisa:
Revista de Nutrição, vol. 17, nº 4, Campinas, 2004
Dieta dos países magros - Harley Pasternak e Laura Moser